Renata Bueno diz que é de centro-esquerda, que preferiu o
governo FHC do que o de Lula, que o governo Beto Richa (PSDB) é “mediano, pouco
criativo e sem ousadia, um governo de acomodação”, que no grupo que está há
mais de 20 anos no poder (Lerner/Greca/Taniguchi/Beto Richa/Luciano Ducci) em
Curitiba “falta ousadia, falta criatividade, falta transparência, falta
humildade e falta sobretudo capacidade de pensar o futuro”, que é contra as
terceirizações na Administração Pública e fala em “máfia Derosso” na
Câmara. Veja a entrevista:
Blog
do Tarso: Vereadora Renata Bueno, conte um pouco sobre sua trajetória
política.
Renata
Bueno: Acompanho a política desde muito cedo com meu pai
Rubens Bueno. E o mais importante, a prática da boa política por meio de sua
atuação. Iniciei com a Juventude Popular Socialista, a JPS, e a partir de então
me candidatei em 2006 a deputada federal e em 2008 a vereadora em Curitiba,
quando fui eleita.
A
senhora se considera de direita, de centro ou de esquerda? O Partido Popular
Socialista – PPS é realmente socialista?
Me
considero de centro-esquerda. O PPS tem origem no “Partidão”, o PCB, cuja
gênese é claramente de esquerda, e representa uma espécie da ‘aggiornamento’ do
socialismo, baseada mais na sensibilidade e compromisso com as causas sociais e
com a redução das desigualdades, tendo em vista que o capital não pode
representar um fim em si mesmo, mas um instrumento e um meio para o
desenvolvimento humano.
Quem
foi melhor presidente, FHC ou Lula?
Fernando
Henrique Cardoso, sem sombra de dúvidas. Foi um governo mais capacitado,
eficiente, que teve planos reais para o fortalecimento da economia e
infraestrutura do País. Diria que ele refundou as bases do capitalismo e da
democracia brasileiras, felizmente continuadas na sua essência pelo governo
Lula.
Lerner
ou Requião?
Jaime
Lerner, como prefeito urbanista, que conseguiu enxergar Curitiba a partir de
horizontes ousados para a sua época. Até hoje, a cidade se vale do capital
criativo que ele desenvolveu, e aí está uma de nossas tragédias contemporâneas.
Isto é, depois dele, nenhum outro prefeito conseguiu avançar ou inovar
efetivamente, de modo que a cidade vive hoje de uma política de planejamento
assentada em remendos.
Qual
sua opinião sobre o governo Beto Richa (PSDB) nesses quase um terço de governo?
Até
o momento, ainda carece de uma grande marca, de grandes realizações. Mediano,
pouco criativo e sem ousadia, um governo de acomodação, mas ainda tem crédito.
Pode vir a se transformar em uma boa surpresa.
A
senhora é pré-candidata a prefeita de Curitiba pelo PPS. É possível uma aliança
com a senhora na vice?
O
PPS tem posicionamento firme pela candidatura própria, e é essa a nossa
prioridade. Não descartamos discutir eventuais coligações, desde que existam
compromissos comuns em relação ao Plano de Governo.
Com
quais partidos a senhora está conversando para fazer alianças?
Por
enquanto essas conversas ainda são preliminares e devem se intensificar à
medida que se aproximarem as datas das convenções que vão oficializar as
candidaturas, na segunda quinzena de junho.
Sua
candidatura será de situação ou de oposição?
Será
uma candidatura a favor da cidade, a favor da boa política, a favor de um novo
projeto, que situe Curitiba no mesmo plano das grandes cidades do mundo.
Quais
são as grandes falhas do grupo político que já está há mais de 20 anos no poder
em Curitiba?
Falta
ousadia, falta criatividade, falta transparência, falta humildade para
reconhecer os problemas que o povo enfrenta cotidianamente no transporte, no
trânsito, na segurança, nos serviços de saúde. Falta sobretudo
capacidade de pensar o futuro com os olhos do futuro.
Metrô
ou ônibus?
Metrô
e ônibus devem ser modais complementares e integrados. Mas o que a Prefeitura
está planejando fazer é a pior solução. Ela vai trocar uma linha de ônibus por
uma linha de metrô, o que não acrescenta nada e não resolverá os nossos
gargalos de mobilidade urbana.
Se
eleita, o que a senhora fará com o ICI – Instituto Curitiba de Informática? Irá
manter a parceria milionária do Município com essa organização social – OS?
Vamos
analisar com responsabilidade e bom senso todos os contratos mantidos pela
Prefeitura. Os que forem benéficos para a cidade e servirem adequadamente os
interesses da população serão mantidos. Se não, serão encerrados. Mas sempre de
maneira correta, bem pensada, sem afoiteza, para não gerar prejuízos ainda
maiores para a cidade, como foi o caso do contrato com a Consilux, que o
prefeito rompeu intempestivamente e até agora continuamos pagando, sem
usufruir.
Quais
são suas principais propostas para Curitiba?
Além
da melhoria na segurança, mobilidade urbana e demais problemas que atualmente
Curitiba enfrenta, pretendo humanizar nossa capital. Sem discursos
ultrapassados que muitos se apropriam, mas trabalhando com um pensamento
sustentável e humanista, em prol dos curitibanos. O objetivo é construir uma
sociedade mais justa e humana de se viver.
Qual
sua opinião sobre as privatizações e terceirizações na Administração Pública?
O
poder público tem de ter condições de atender a população nas atividades que
são de sua competência, sem a necessidade de terceirização de serviços, pois
acredito ser uma via aberta para a corrupção, beneficiando órgãos e entidades.
A carga tributária que se paga atualmente no País é muito alta. Portanto, o
poder público tem a obrigação de devolver esses valores à sociedade.
Terceirizar é uma forma de não encarar o problema real. É uma solução
paliativa.
A
senhora andou se desentendendo com alguns colegas vereadores seus. Conseguirá
governar com essa Câmara Municipal?
Desde
que cada poder e cada representante do povo cumpra o seu papel não haverá
nenhum problema. Não vou compactuar com nenhuma máfia, nenhum interesse escuso,
nenhuma troca de favores. Jogando com clareza, transparência e honestidade,
tenho certeza que as boas vocações políticas que existem na Câmara de
Vereadores, e elas existem, terão afinal espaço para mudar também as relações
políticas viciadas por tanto tempo de desmando e impunidade.
O
ex-presidente da Câmara, João Cláudio Derosso, merece perder o cargo por meio
de impeachment ou nas urnas?
Ele
foi blindado pela maioria dos vereadores, em especial a bancada de apoio do
prefeito, o que inviabilizou o seu impeachment. Hoje se vê que eu tinha razão
quando me referia genericamente à ‘máfia Derosso’, o que me valeu um processo
no conselho de ética e a tentativa de me transformar em vilã. Fiz a minha
obrigação de levantar a briga contra o Derosso e os seus comparsas, ao lado da
imprensa e da opinião pública. Mas agora o destino deles está nas mãos do
Ministério Público e do Poder Judiciário, o que é o caminho institucional
correto para corrigir essas distorções e recuperar o dinheiro desviado.
Se
ele vier a ser novamente candidato, o que já é por si mesmo um absurdo, caberá
aos seus eleitores decidirem o que ele merece ou não.
Vereadora
Renata Bueno, obrigado pela entrevista e boa sorte!
Eu
que agradeço pela oportunidade, Tarso.
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