terça-feira, 8 de maio de 2012

Blog do Tarso: Entrevista exclusiva com a pré-candidata a prefeita de Curitiba pelo PPS, Renata Bueno


Renata Bueno diz que é de centro-esquerda, que preferiu o governo FHC do que o de Lula, que o governo Beto Richa (PSDB) é “mediano, pouco criativo e sem ousadia, um governo de acomodação”, que no grupo que está há mais de 20 anos no poder (Lerner/Greca/Taniguchi/Beto Richa/Luciano Ducci) em Curitiba “falta ousadia, falta criatividade, falta transparência, falta humildade e falta sobretudo capacidade de pensar o futuro”, que é contra as terceirizações na Administração Pública e fala em “máfia Derosso” na Câmara. Veja a entrevista:

Blog do Tarso: Vereadora Renata Bueno, conte um pouco sobre sua trajetória política. 
Renata Bueno: Acompanho a política desde muito cedo com meu pai Rubens Bueno. E o mais importante, a prática da boa política por meio de sua atuação. Iniciei com a Juventude Popular Socialista, a JPS, e a partir de então me candidatei em 2006 a deputada federal e em 2008 a vereadora em Curitiba, quando fui eleita.

A senhora se considera de direita, de centro ou de esquerda? O Partido Popular Socialista – PPS é realmente socialista?
Me considero de centro-esquerda. O PPS tem origem no “Partidão”, o PCB, cuja gênese é claramente de esquerda, e representa uma espécie da ‘aggiornamento’ do socialismo, baseada mais na sensibilidade e compromisso com as causas sociais e com a redução das desigualdades, tendo em vista que o capital não pode representar um fim em si mesmo, mas um instrumento e um meio para o desenvolvimento humano.

Quem foi melhor presidente, FHC ou Lula?
Fernando Henrique Cardoso, sem sombra de dúvidas. Foi um governo mais capacitado, eficiente, que teve planos reais para o fortalecimento da economia e infraestrutura do País. Diria que ele refundou as bases do capitalismo e da democracia brasileiras, felizmente continuadas na sua essência pelo governo Lula.

Lerner ou Requião?
Jaime Lerner, como prefeito urbanista, que conseguiu enxergar Curitiba a partir de horizontes ousados para a sua época. Até hoje, a cidade se vale do capital criativo que ele desenvolveu, e aí está uma de nossas tragédias contemporâneas. Isto é, depois dele, nenhum outro prefeito conseguiu avançar ou inovar efetivamente, de modo que a cidade vive hoje de uma política de planejamento assentada em remendos.

Qual sua opinião sobre o governo Beto Richa (PSDB) nesses quase um terço de governo?
Até o momento, ainda carece de uma grande marca, de grandes realizações. Mediano, pouco criativo e sem ousadia, um governo de acomodação, mas ainda tem crédito. Pode vir a se transformar em uma boa surpresa.

A senhora é pré-candidata a prefeita de Curitiba pelo PPS. É possível uma aliança com a senhora na vice?
O PPS tem posicionamento firme pela candidatura própria, e é essa a nossa prioridade. Não descartamos discutir eventuais coligações, desde que existam compromissos comuns em relação ao Plano de Governo.

Com quais partidos a senhora está conversando para fazer alianças?
Por enquanto essas conversas ainda são preliminares e devem se intensificar à medida que se aproximarem as datas das convenções que vão oficializar as candidaturas, na segunda quinzena de junho.

Sua candidatura será de situação ou de oposição?
Será uma candidatura a favor da cidade, a favor da boa política, a favor de um novo projeto, que situe Curitiba no mesmo plano das grandes cidades do mundo.

Quais são as grandes falhas do grupo político que já está há mais de 20 anos no poder em Curitiba?
Falta ousadia, falta criatividade, falta transparência, falta humildade para reconhecer os problemas que o povo enfrenta cotidianamente no transporte, no trânsito, na segurança, nos serviços de saúde.  Falta sobretudo capacidade de pensar o futuro com os olhos do futuro.

Metrô ou ônibus?
Metrô e ônibus devem ser modais complementares e integrados. Mas o que a Prefeitura está planejando fazer é a pior solução. Ela vai trocar uma linha de ônibus por uma linha de metrô, o que não acrescenta nada e não resolverá os nossos gargalos de mobilidade urbana.

Se eleita, o que a senhora fará com o ICI – Instituto Curitiba de Informática? Irá manter a parceria milionária do Município com essa organização social – OS?
Vamos analisar com responsabilidade e bom senso todos os contratos mantidos pela Prefeitura. Os que forem benéficos para a cidade e servirem adequadamente os interesses da população serão mantidos. Se não, serão encerrados. Mas sempre de maneira correta, bem pensada, sem afoiteza, para não gerar prejuízos ainda maiores para a cidade, como foi o caso do contrato com a Consilux, que o prefeito rompeu intempestivamente e até agora continuamos pagando, sem usufruir.

Quais são suas principais propostas para Curitiba?
Além da melhoria na segurança, mobilidade urbana e demais problemas que atualmente Curitiba enfrenta, pretendo humanizar nossa capital. Sem discursos ultrapassados que muitos se apropriam, mas trabalhando com um pensamento sustentável e humanista, em prol dos curitibanos. O objetivo é construir uma sociedade mais justa e humana de se viver.

Qual sua opinião sobre as privatizações e terceirizações na Administração Pública?
O poder público tem de ter condições de atender a população nas atividades que são de sua competência, sem a necessidade de terceirização de serviços, pois acredito ser uma via aberta para a corrupção, beneficiando órgãos e entidades. A carga tributária que se paga atualmente no País é muito alta. Portanto, o poder público tem a obrigação de devolver esses valores à sociedade. Terceirizar é uma forma de não encarar o problema real. É uma solução paliativa.

A senhora andou se desentendendo com alguns colegas vereadores seus. Conseguirá governar com essa Câmara Municipal?

Desde que cada poder e cada representante do povo cumpra o seu papel não haverá nenhum problema. Não vou compactuar com nenhuma máfia, nenhum interesse escuso, nenhuma troca de favores. Jogando com clareza, transparência e honestidade, tenho certeza que as boas vocações políticas que existem na Câmara de Vereadores, e elas existem, terão afinal espaço para mudar também as relações políticas viciadas por tanto tempo de desmando e impunidade.

O ex-presidente da Câmara, João Cláudio Derosso, merece perder o cargo por meio de impeachment ou nas urnas?
Ele foi blindado pela maioria dos vereadores, em especial a bancada de apoio do prefeito, o que inviabilizou o seu impeachment. Hoje se vê que eu tinha razão quando me referia genericamente à ‘máfia Derosso’, o que me valeu um processo no conselho de ética e a tentativa de me transformar em vilã. Fiz a minha obrigação de levantar a briga contra o Derosso e os seus comparsas, ao lado da imprensa e da opinião pública. Mas agora o destino deles está nas mãos do Ministério Público e do Poder Judiciário, o que é o caminho institucional correto para corrigir essas distorções e recuperar o dinheiro desviado.
Se ele vier a ser novamente candidato, o que já é por si mesmo um absurdo, caberá aos seus eleitores decidirem o que ele merece ou não.

Vereadora Renata Bueno, obrigado pela entrevista e boa sorte!
Eu que agradeço pela oportunidade, Tarso.

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